terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Amálgamas Ossárias









Camilo Pessanha - 2





Clépsidra
(Poesias)



Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madre-silvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas,...
Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
é este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.



(Voz débil que passas,...)

Voz débil que passas,
Que humílima gemes
Não sei que desgraças...

Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida às paredes,

Se vens às escuras,
Confia-me ao ouvido
Não sei que amarguras...

Suspiras ou falas?
Porque é o gemido,
O sopro que exalas?

Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas...

Ser teu companheiro?
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.

Passados amores? —
Animas-te, dizes
Não sei que terrores...

Fraquinha, deliras.
Projectos felizes?
Suspiras, Expiras.



(Porque o melhor, enfim...)

Porque o melhor, enfim
É não ouvir nem ver...
Passarem sobre mim
E nada me doer!

Sorrindo interiormente,
Co'as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. —

Rixas, tumultos, lutas,
Não me fazem dano...
Alheio às vãs labutas,
Às estações do ano.

Passar o Estio, o Outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.

Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a erva.

Que Abril copioso ensope...
E, esbelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.

Ou no serrado mato,
A brigas tão propício,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifício

Das vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas...

Ou sob o piso, até,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultuosa,

Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com ímpetos de fera
Nos olhos, saltos, gritos...

Roubos, assassinatos!
Horas jamais tranquilas,
Em brutos pugilatos
Fracturam-se as maxilas...

E eu sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
De não me doer nada.



Poema Final

Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,
Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias ,
No limbo onde esperais a luz que vos baptize,

As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.

Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clépsidra,
Vagamente sorris, resignados e ateus,

Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.

Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E o vento expirais em um queixume brando,

Adormecei. Não suspireis. Não respireis.



Divagando no meu tempo pictórico - 1


Pinturas perdidas no limbo entre 1981 e 1987

 1981


 1983


 1985


 1987


 1987


1987

sábado, 24 de dezembro de 2011

A beleza na putrefacção - I





Surrealismo - 7: René Magritte

.
René François Ghislain Magritte (Lessines, Bélgica, 21 de Novembro de 1898 ― Bruxelas, Bélgica, 15 de Agosto de 1967)



Magritte deu novos significados aos objectos comuns, mas de uma forma diferente. As suas pinturas tem um conteúdo filosófico e poético, exortando à hipersensibilidade de quem as vê.



 The Treason of Pictures (1929)


La clef des songes (1930)



"Detesto o meu passado e o de todos. Detesto a resignação, a paciência, o heroismo profissional e os sentimentos bonitos obrigatórios. Também detesto as artes decorativas, o folclore, a publicidade, as vozes dos anúncios, o aerodinamismo, os escuteiros, o cheiros das bolas de naftalina, acontecimentos do momento e pessoas embriagadas"



 Clear Ideas (1958)


 Golconde (1953)


 Le Reproduction Interdite (1937)


 L'explication (1952)


 Personal Values (1951-52)


 Memory of a Voyage (1952)


 The Human Condition (1933)


 The Red Model (1935)


 The Son of Man (1964)


 Time Transfixed (1928)


 The lovers (1928)


The Listening Room (1958)


Site:


A 9ª Arte - XIII


Ventura & Nieto


(Paródia a Moebius - Harzak)







(Paródia a Richard Corben - Den)






(Paródia a Hugo Pratt - Corto Maltese)






(Paródia a Will Eisner - The Spirit)