quinta-feira, 30 de junho de 2011

Les Chef-d'œuvres - VI

Pieter the Elder Bruegel - (1525, Brogel - 1569, Bruxelles)


Dulle Griet (Mad Meg) (1562)


Netherlandish Proverbs (1559)

Peasant Wedding (1567)

The Fall of the Rebel Angels (1562)

The Misanthrope (1558)

The Parable of the Blind Leading the Blind (1568)

The Sermon of St John the Baptist (1566)

The Tower of Babel (1564)

The Triumph of Death (1562)

Mofo artisticamente natural



Mário de Sá-Carneiro - II



"Indícios de Oiro"


Cinco Horas


Minha mesa do café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e que fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.


(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais).

Sobre ela posso escrever
Os meus versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
Pois há um ano que fumo
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la claramente...)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

E o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha ideia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...

(Que história de oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

Cafés da minha preguiça,
Sois hoje que galardão!
Todo o meu campo de acção
E toda a minha cubiça.



Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro.

Máximas filosóficas - XXII


Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”


Eu e a Fotografia Artística de Cena - 6ª parte












quarta-feira, 29 de junho de 2011

Futurismo em Portugal – 5ª parte


Portugal Futurista - nº 1


Em 1917, publicou-se o número único da revista "Portugal Futurista", que veio coroar os pedidos dos admiradores de Marinetti.
Ao contrário da "Orpheu", esta publica textos de autores estrangeiros, tais como Appollinaire, Blaise Cendrars, Marinetti, Boccioni, Valentine, Carrá. Há ainda textos de Raul Leal, Almada Negreiros, Santa-Rita, Álvaro de Campos, Bettencourt-Rebelo; Poemas de Guillaume Appollinaire, Sá-Carneiro e Fernado Pessoa; Pinturas de Santa-Rita e de Amadeu de Sousa-Cardoso.
Foram publicados os seguintes manifestos: "Manifeste des Peintres Futuristes", "Ultimatum Futurista ás gerações vindouras do século XX" de Almada, "Ultimatum" de Álvaro de Campos, "O Music-Hall" de Marinetti, e o "Manifesto Futurista da Luxuria" de Valentine de Saint-Point.
O fascículo foi imediatamente apreendido, por razões não muito claras, de moralidade pública. Um prospecto anunciando a revista alertara já para a sua inconveniência, ao imprimir três palavras seguidas, Monarquia, República e Portugal, e ao riscar a vermelho as duas primeiras.




O "últimatum" de Álvaro de campos constituiu o fulcro da publicação. Texto de megalomania admiravelmente simulada, onde a falência geral é decretada. O caminho indicado na proclamação seguinte começa pela verificação da "Lei de Malthus da sensibilidade", na qual os "estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica, os da sensibilidade apenas em progressão aritmética". Dai "a necessidade de adaptação artificial", "acto de cirurgia social". Com a "abolição do dogma da personalidade" e do "preconceito da individualidade" visa-se a "criação científica dos Super-homens", "não os mais fortes, mas os mais Complexos; não os mais duros, mas os mais Complexos; não os mais livres, mas os mais Harmónicos". A multiplicidade em cada um, a heteronomia do próprio Pessoa, seria o estado ideal da grande Síntese-Soma. O advento duma "Humanidade matemática e perfeita".




Nenhum manifesto reclamou contra essa apreensão, e Almada denunciou apenas na tábua bibliográfica da "Engomadeira", semanas depois. Foi como se a publicação da revista tivesse esgotado a energia do grupo. Nada mais constou a seguir a esta publicação.
Mário de Sá-Carneiro morrera em 1916, Santa-Rita Pintor morre em Maio de 1918 e Amadeu de Sousa Cardoso em Outubro desse ano. Almada Negreiros foi para Paris em 1919. Fernando Pessoa seguiu outro caminho.
No fim de 1918, um jornalista anónimo, falando da "arte bizarra" dos "excêntricos" do "Orpheu", referiu-se ao suicídio do poeta e à morte de Santa Rita. Não fala nem na morte de Amadeu, nem em Pessoa ou Almada. Escreveu "Os outros dispersaram-se não vingando a escola que pretendiam ressuscitar".
O Futurismo Português, se de futurismo como movimento se pode falar, estava comprido. Como disse Guillhermo de Torre: "Um Futurismo sem futuro".

O último suspiro criativo



Máximas filosóficas - XXII


Mas os homens devem saber que só Deus e os anjos podem ser espectadores do teatro da vida humana"


A 9ª Arte - III

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A tentação de Celestino Monteiro pelo Bidón Expendedor de Beixos



Necronomicon


O título original é Al Azif. Azif, palavra utilizada pelos árabes para designar os sons nocturnos (produzidos pelos insectos), que se supões são aliados dos demónios.
Foi escrito por Abdul Alhazred, um poeta louco do Sanaa al Yemen, que se supõe floresceu no período dos califas omeyas no ano 700. Visitou as ruínas de Babilónia e os subterrâneos secretos de Menfis, e passou dez anos solitáriamente no grande deserto do sul da Arábia (el Roba el Khaliyeh [Rub al-Jali], o "Espaço vazio" dos antigos), o deserto "Danha" o "Carmesí" dos árabes modernos, que se supõe habitado por espíritos malignos y monstros mortais. Dizem-se muitas cosas maravilhosas e incríveis deste deserto, transmitidas por quem o percorreu.
Nos últimos anos de vida, Alhazred permaneceu em Damasco, onde escreveu o Necronomicon (Al Azif), e muitas coisas terríveis e contraditórias se contarão sobre a sua morte, registada no ano 738 da nossa era.




Ibn Khallikan (biografo do século XII) contou que fui apanhado por um monstro invisível a plena luz do dia e devorado na presença de um grande numero de testemunhas aterrorizadas. Alhazred pretendia ter visitado a fabulosa Irem, ou Cidade dos Pilares, e ter encontrado de baixo as ruínas de um povoado desértico sem nome, os terríveis anais secretos de uma raça mais antiga que a humanidade. Foi um muçulmano indiferente, que rendia culto a entidades desconhecidas ás quais denominava Yog-Sothoth e Cthulhu.
No ano 950 o Al Azif, muito frequentado (de forma clandestina) entre os filósofos da época, foi traduzido em secreto ao grego por Teodoro Philetas (ou Filetas, segundo outras grafias) de Constantinopla com o título de Necronomicon. Durante um século a sua influencia provocou acontecimentos horríveis, até que foi proibido e queimado pelo patriarca Miguel.
A partir desse momento, só ficaram referencias escassas sobre a sua historia, mas Olaus Wormius (1228) traduziu-o ao latim na Idade Media, e este texto latino foi impresso duas vezes: no sec. XV com letras góticas (obviamente na Alemanha) e logo no sec. XVII (provavelmente em Espanha); ambas edições carecem de pé de impressa ou sinais identificativos, e foram datados somente pela evidencia tipográfica.
A obra, tanto a versão grega como a latina, foi condenada pelo Papa Gregório IX em 1232, pouco depois da sua tradução ao latim. O texto original árabe perdeu-se na época de Wormius, tal como assinala a sua nota introdutória, e nunca se viu a copia grega (impressa em Itália entre 1500 e 1550) desde que se incendiou a biblioteca de um coleccionador particular de Salem en 1692. A tradução inglesa realizada por Dr. Dee nunca se imprimiu, e sobrevivem somente alguns fragmentos recuperados do manuscrito original. Dos textos latinos resta um do sec. XV, que se conserva no British Museum em segredo, enquanto que outra copia, do sec. XVII, encontra-se na Bibliotheque Nationale em Paris. Há uma edição do sec. XVII na Widener Library de Harvard, outra na Biblioteca da Miskatonic University em Arkham, e outra na biblioteca da Universidade de Buenos Aires. Muitas outras copias circulam em segredo, e corre o rumor que uma cópia do sec. XV forma parte da colecção de um conhecido milionário norte-americano. Um rumor mais difuso ainda, afirma que a família Pickman de Salem conservou uma copia do texto grego do sec. XVI, mas parece ter desaparecido junto com o artista R. U. Pickman, que morreu em 1926.
O livro está estritamente proibido pelas autoridades de vários países e por todas as ramas eclesiásticas, pois a sua leitura acarreta consequências terríveis.