segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Carta Aberta


Caros inergúmenos
(somente referente a: 1. Pessoa dominada pelo demónio. = POSSESSO )

Venho por este meio justificar a minha falta ao agendado encontro devido a estar bastante mais preocupado em esvaziar um copo de Vodka do que a assistir a uma verborreia pseudo-política sobre a visita de um ser que eu particularmente até admiro (somente por ter tantos detractores)...quando está a dormir. Na verdade até me estou a cagar, mas é só para chatear.
Acredito em vós, mas somente na vossa profundidade artística. Quando ás manifestações terráqueas referentes a níveis políticos, religiosos e desportivos venho mostrar a minha Náusea total sobre esses momentos.
Assim, estarei sempre dentro das vossas vísceras, mas somente a níveis imateriais, hiperbóreos, intestinais, paracleticos (sem referência ao Espírito Santo. Mas gosto desta palavra) e dionisíacos.
"Ontem será outro dia...amanhã não sei."
Amen a todos e até uma próxima sublevação espiritual.

p/c...ou mirne:
Não aceito, tal como Breton, referencias contraditórias ás minhas enxaquecas pós-alcoólicas.


"Agora aticem-me os cães, mas devagar pois a morte é breve e eu quero sofrer"

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Amálgamas Ossárias









Camilo Pessanha - 2





Clépsidra
(Poesias)



Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madre-silvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas,...
Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
é este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.



(Voz débil que passas,...)

Voz débil que passas,
Que humílima gemes
Não sei que desgraças...

Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida às paredes,

Se vens às escuras,
Confia-me ao ouvido
Não sei que amarguras...

Suspiras ou falas?
Porque é o gemido,
O sopro que exalas?

Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas...

Ser teu companheiro?
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.

Passados amores? —
Animas-te, dizes
Não sei que terrores...

Fraquinha, deliras.
Projectos felizes?
Suspiras, Expiras.



(Porque o melhor, enfim...)

Porque o melhor, enfim
É não ouvir nem ver...
Passarem sobre mim
E nada me doer!

Sorrindo interiormente,
Co'as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. —

Rixas, tumultos, lutas,
Não me fazem dano...
Alheio às vãs labutas,
Às estações do ano.

Passar o Estio, o Outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.

Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a erva.

Que Abril copioso ensope...
E, esbelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.

Ou no serrado mato,
A brigas tão propício,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifício

Das vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas...

Ou sob o piso, até,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultuosa,

Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com ímpetos de fera
Nos olhos, saltos, gritos...

Roubos, assassinatos!
Horas jamais tranquilas,
Em brutos pugilatos
Fracturam-se as maxilas...

E eu sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
De não me doer nada.



Poema Final

Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,
Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias ,
No limbo onde esperais a luz que vos baptize,

As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.

Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clépsidra,
Vagamente sorris, resignados e ateus,

Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.

Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E o vento expirais em um queixume brando,

Adormecei. Não suspireis. Não respireis.



Divagando no meu tempo pictórico - 1


Pinturas perdidas no limbo entre 1981 e 1987

 1981


 1983


 1985


 1987


 1987


1987