domingo, 30 de janeiro de 2011

Oscar Wilde - O retrato de Dorien Gray - cap. IV


Meu caro amigo, o que Basil põe-no na sua obra. Resulta assim que na vida corrente, não lhe restam mais que os seus preconceitos, os seus princípios e o seu bom senso. Os únicos artistas agradáveis de conviver são os maus artistas. Um artista existe unicamente no que faz, e é portanto desprovido de interesse em si mesmo. Um grande poeta – um verdadeiro grande poeta, entenda-se – é o ser menos poético que se possa imaginar. Em contrapartida, os poetas de qualidade inferior são absolutamente fascinantes. Quanto piores são os seus versos, mais pitorescos eles são. O simples facto de ter publicado um soneto de segunda ordem torna um indivíduo irresistível: vive a poesia que é incapaz de escrever… Quanto aos outros, escrevem a poesia que não tem a audácia de viver.

O meu filho Pedro Monteiro




A Interferência do pensamento nos cristais da agua... e nos somos 90% desse liquido. Somos infinitamente novos.

Microcristais de água


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Uma minha não-pintura

... e uma gota azul cobalto tinha logo de se ir apaixonadar pelo geso!

Ao grande poeta Henri Chopin

(18, Junho, 1922 - 3, Janeiro, 2008)


Henri Chopin foi vital no movimento avant-garde francês dos anos 50 e 60. Conhecido como um poeta concreto e poeta fonético. Foi também musico, pintor, artista performativo, artista grafico, director de cinema, radialista, editor independente e promotor das artes.
Considerando que a poesia sonora Dada ainda se baseava em letras, Chopin sempre focado na essência pura de sons que a voz era capaz de fazer foi muito alem da palavra falada.





















Site Ubuweb

Um dos sites mais importantes sobre artistas experimentais:
http://www.ubu.com/

Estou preso na minha busca!



















Pensamentos de Valentina Carro Padin, poeta com um acordeão velho e uma meia de cada cor.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poema letrista recitado por mim

No verão passado tive uma experiência com a poesia através do movimento Letrista. Resolvi fazer um filme inspirado nessas performances visuais e auditivas. Aqui fica uma mostra.


Fotografia de pós-cena.






O Letrismo foi um estilo artístico que apareceu na Roménia com o poeta, pintor e cineasta Isidore Isou, em 1942.  Surgiu como oposição ao controlo de André Breton sobre o Surrealismo e tendia ao Dadaísmoopõem-se à palavra e à significação, buscando o onomatopaico e o fonético.
Experiências semelhantes, anteriores ao Letrismo, já haviam sido muito exploradas pelo Dadaísmo e Futurismo russo.

Isidore Isou














Podem ver alguns dos trabalhos nestes sites:

Eu num momento de pausa depois de um largo dia de vegetação artística


Faisca, a minha grande companheira na demanda artística

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As minhas Trilogias Artísticas na pintura

25 Anos









Há Espera do Nada









Homenagem aos Cátaros









Nos-Nús









Trilogia do Sonho









Trilogia do Sangue




Friedrich Nietzsche - Assim falou Zaratustra




















Do caminho do criador

- Queres meu irmão, ir para o isolamento? Queres procurar o caminho que leva a ti próprio? Não te decidas por enquanto e presta atenção ao que te digo.

- 'Aquele que procura facilmente se perde. Todo o isolamento é culpado': assim fala o rebanho. E durante muito tempo fizeste parte do rebanho.

- A voz do rebanho há de ressoar ainda em ti. E, quando disseres: 'A minha consciência nada tem de comum com a vossa', isso será uma lamentação e um sofrimento.

- Repara, a consciência comum gera este mesmo sofrimento: e o último reflexo desta consciência causa ainda dor na tua aflição.

- Mas queres seguir o caminho da tua aflição, que é o caminho de ti próprio? Mostra-me então que tens esse direito e essa força!

- És uma nova força e um novo direito? Um primeiro movimento? Uma roda que se move por si mesma? Podes até obrigar as estrelas à girar a tua volta?

- Ah!, quanta concupiscência pelas alturas! Quantos espasmos dos ambiciosos! Mostra-me que não estás nem entre os concupiscentes nem entre os ambiciosos!

- Ah!, tantos pensamentos grandiosos que só agem como um fole: enchem e aumentam o vazio.

- Dizes-te livre? Quero saber qual é o teu pensamento soberano, e não que sacudiste de ti um jugo.

- És um daqueles a quem foi permitido escapar a um jogo? Muitos perderam o seu ultimo valor quando rejeitaram a sua servidão.

- Livre de quê? Que importa a Zaratustra! Mas o teu olhar deve dizer-te claramente: livre para quê?

- Podes acaso dar-te a ti próprio o teu bem e o teu mal e suspender a tua vontade por acima de ti, como se fosse uma lei? Podes acaso ser o teu próprio juiz e o vingador da tua lei?

- É terrível ficar sozinho com o juiz e o vingador da sua própria lei. Da mesma forma que uma estrela atirada no espaço vazio e como o sopro gelado da solidão.

- Hoje ainda sofres com a multidão, tu, que és um solitário: hoje ainda a tua coragem e as tuas esperanças estão inteiras.

- Mas um dia a solidão há-de fatigar-te, um dia o teu orgulho há-de dobrar-se e a tua coragem há-de ranger os dentes. Um dia hás-de gritar: 'Estou só!'

- Um dia deixarás de ver a tua altura e a tua baixeza estará muito próxima; até o que é sublime em ti te fará medo, como um fantasma. Um dia gritarás: "Tudo é falso!"

- Há sentimentos que querem matar o solitário; se o não conseguem, têm então de morrer eles próprios! Mas serás tu capaz de ser um assassino?

- Conheces já a palavra "desprezo", meu irmão? É o tormento da sua equidade que te obriga a ser justo para com aqueles mesmos que te desprezam?

- Obrigas muitas pessoas a mudar de opinião acerca de ti; e isso vai ter más consequências para ti. Aproximaste-te deles, mas continuaste o teu caminho; nunca te hão-de perdoar.

- Tu passas para além deles: mas quanto mais te elevas mais pequeno pareces ao olhar do invejoso. Aquele que voa é aquele que mais se odeia.

- Como podíeis ser justos para comigo!, deves dizer, "Escolhi a vossa injustiça como a parte que me é devida".

- Atiram com injustiça e com laga ao rosto do solitário: mas, meu irmão, se queres ser uma estrela, não deves de deixar de brilhar para eles!

- E toma cuidado com os bons e os justos! Crucificam de boa vontade aqueles que para si inventam a sua própria virtude – odeiam o solitário.

- Toma muito cuidado também com a santa simplicidade! Tudo o que não é simples é, aos seus olhos, ímpio. Também ela utiliza de boa vontade a fogueira.

- E toma cuidado com os impulsos do teu amor! O solitário estende depressa de mais a mão àquele que encontra.

- Há certos homens a quem não deves estender a mão, mas a pata: e quero que a tua pata tenha garras.

- Mas o pior inimigo que podes encontrar serás sempre tu: és tu próprio que te espreitas nas cavernas e nas florestas.

- Solitário, segues o caminho que leva a ti próprio! E o teu caminho passa diante de ti e dos teus sete demônios!

- Serás para ti próprio um herético e uma feiticeira, um vidente e um louco, um ímpio e um criminoso.

- É preciso que queiras queimar-te na tua própria fogueira: como queres renovar-te se não te reduziste primeiro a cinzas?

- Solitário, segues o caminho do criador: queres tornar-te um deus com os teus sete demônios.

- Solitário, segues o caminho daquele que ama: és tu aquele que amas e por essa razão te desprezas como só os que amam sabem desprezar.

- Aquele que ama quer criar porque despreza! Que saberá do amor aquele que não devesse desprezar precisamente aquilo que amava?

- Vai para o teu isolamento, meu irmão, com o teu amor e a tua criação, e mais tarde a justiça te seguirá, arrastando as pernas.

- Vai para o teu isolamento, meu irmão, com as tuas lágrimas. Amo aquele que quer criar acima de si próprio e desse modo caminha para a sua perdição.

Assim falava Zaratustra

Sentimentos alheios à realidade!

Filmografia no meu paraiso

Tenho andado a rever ou ver, nestes grandes momentos de encontro do meu eu, uns soberbos filmes que aconselho vivamente... ou mortalmente a quem os consiga aguentar. A listagem poderia ser um pouco longa, mas por agora é esta:
 
Andrei Tarkovsky - Nostalgia (1983), Stalker (1979), O Espelho (1974)
Béla Tarr - Damnation (1988), Sátántango (1994)
Kenji Mizoguchi - Contos da Lua Pálida de Agosto (1953)
Michelangelo Antonioni - O Eclipse (1963), Deserto Vermelho (1964)
Pier Paolo Pasolini – O Evangelho Segundo São Mateus (1964)
Rainer Werner Fassbinder – As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972), Todos nos chamamos Ali (1973), O Direito do Mais Forte à Liberdade (1975), Querelle (1982)
Sergei Parajanov – Sayat Nova (1968)
Werner Herzog – Woyzeck, o Soldado Atraiçoado (1979), A Canção de Bruno S. (1977), Coração de Gelo (1976), O Enigma de Kaspar Hauser (1974)

O tempo esta parado...e eu também

Lautréamont - Cantos de Maldoror - canto primeiro, quarta parte

Deve-se deixar crescer as unhas durante quinze dias. Oh, como é doce arrancar brutalmente da cama um menino que nada tem ainda sobre o lábio superior, e, de olhos muito abertos, fingir passar-lhe suavemente a mão na testa, puxando-lhe para trás os lindos cabelos! Depois, de repente, quando ele menos espera, enterrar-lhe as unhas compridas no peito mole, de modo a que não morra; porque, se morresse, não se teria mais tarde o espectáculo das suas misérias. Seguidamente, bebe-se o sangue, lambendo as feridas; e enquanto isto, que devia durar tanto como dura a eternidade, a criança chora. Nada é tão bom como o seu sangue, extraído do modo que acabado de descrever, e ainda quentinho; a não ser as suas lágrimas, amargas como o sal. Homem, nunca provaste do teu sangue quando por acaso deste um golpe num dedo? É bom, não é verdade? – porque não tem gosto nenhum. Além disso, não te lembras de, um dia, nas tuas lúgubres reflexões, teres levado a mão em concha ao rosto enfermiço molhado pelo que dos olhos caía – mão que depois se dirigia fatalmente para a boca, a qual absorvia as lágrimas a grandes tragos, nesta taça tremente como os dentes do aluno que olha obliquamente aquele que nasceu para o oprimir? Como elas são boas, não é verdade? – porque sabem a vinagre. Dir-se-ia que são as lágrimas da que mais amou; mas as lágrimas da criança são melhores ao paladar. Ela não trai, porque não conhece ainda o mal: a que mais amou trai mais tarde ou mais cedo… - adivinho-o por analogia, embora ignore o que é a amizade e o amor (é provável que nunca venha a aceitá-los; pelo menos na raça humana). Portanto, visto que o teu sangue e as tuas lágrimas não te causam nojo, alimenta-te, alimenta-te confiadamente das lágrimas e do sangue do adolescente. Venda-lhe os olhos enquanto lhe rasgas as carnes palpitantes; e, depois de teres ouvido durante longas horas os seus gritos sublimes, semelhantes ao agudo estertor que as gargantas dos feridos agonizantes soltam na batalha, então, depois de te teres afastado como uma avalancha, precipita-te do quarto do lado e finge vir em seu auxílio. Irás desligar-lhe as mãos de nervos e veias inchados, farás que os seus olhos perdidos voltem a ver, e põem-te a lamber-lhe as lágrimas e o sangue. Como então é verdadeiro o arrependimento! A chispa divina que em nós habita e tão raramente aparece mostra-se; tarde de mais! Como o coração rejubila por poder consolar o inocente a quem fizeram mal: «Adolescente, que acabas de sofrer cruéis dores, quem ousou cometer este crime que não tenho palavras para qualificar! Pobre de ti! Como tu deves sofrer! E, se a tua mãe soubesse disto, não estaria mais perto da morte, tão detestada pelos culpados, do que eu o estou agora. Oh, que são então o bem e o mal? Serão uma só coisa pela qual testemunhamos com raiva a nossa impotência e a paixão de extinguirmos o infinito mesmo pelos meios mais insensatos? Ou serão coisas diferentes? Sim… devem ser uma e a mesma coisa… pois, senão, em que me tornaria eu no dia do juízo? Adolescente, perdoa-me; foi este que está diante do teu rosto nobre e sagrado que quebrou os teus ossos e rasgou as tuas carnes, agora pendentes em diversas partes do teu corpo: Terá sido um delírio da minha razão doente, terá sido um secreto instinto que não depende dos meus raciocínios, semelhantes ao da águia que dilacera a pressa, que me levou a cometer este crime: e, porém, tanto como a minha vítima, eu sofria! Adolescente, perdoa-me. Uma vez saídos desta vida passageira, quero que fiquemos entrelaçados durante a eternidade; que formemos um único ser, que a minha boca fique colada à tua boca. E nem desta maneira será completo o meu castigo. Então, serás tu a dilacerar-me, sem te deteres nunca, com as unhas e com os dentes. Enfeitarei meu corpo de grinaldas olorosas para este holocausto expiatório; e sofreremos os dois, eu por ser dilacerado e tu por me dilacerares… com a minha boca colada à tua boca. Ó adolescente de cabelos loiros, de olhos tão doces, farás tu agora o que te aconselho? Queiras ou não, eu quero que o faças, e tornarás feliz a minha consciência». Depois de teres falado assim, serás amado por aquele mesmo ser humano a quem fizeste mal: é a maior felicidade que se pode conceber. Mais tarde, poderás interná-lo no hospital; porque, imobilizado, não poderá ganhar a vida. Dirão que tu és bom, e coroas de louros e medalhas de oiro, esparsas sobre a grande pedra tumular, de aspecto envelhecido, virão cobrir-te os pés descalços. Ó tu, cujo nome não quero escrever nesta página que consagra a santidade do crime, eu sei que o teu perdão foi imenso como o universo.Mas eu, eu existo ainda!