quarta-feira, 29 de junho de 2011

Futurismo em Portugal – 5ª parte


Portugal Futurista - nº 1


Em 1917, publicou-se o número único da revista "Portugal Futurista", que veio coroar os pedidos dos admiradores de Marinetti.
Ao contrário da "Orpheu", esta publica textos de autores estrangeiros, tais como Appollinaire, Blaise Cendrars, Marinetti, Boccioni, Valentine, Carrá. Há ainda textos de Raul Leal, Almada Negreiros, Santa-Rita, Álvaro de Campos, Bettencourt-Rebelo; Poemas de Guillaume Appollinaire, Sá-Carneiro e Fernado Pessoa; Pinturas de Santa-Rita e de Amadeu de Sousa-Cardoso.
Foram publicados os seguintes manifestos: "Manifeste des Peintres Futuristes", "Ultimatum Futurista ás gerações vindouras do século XX" de Almada, "Ultimatum" de Álvaro de Campos, "O Music-Hall" de Marinetti, e o "Manifesto Futurista da Luxuria" de Valentine de Saint-Point.
O fascículo foi imediatamente apreendido, por razões não muito claras, de moralidade pública. Um prospecto anunciando a revista alertara já para a sua inconveniência, ao imprimir três palavras seguidas, Monarquia, República e Portugal, e ao riscar a vermelho as duas primeiras.




O "últimatum" de Álvaro de campos constituiu o fulcro da publicação. Texto de megalomania admiravelmente simulada, onde a falência geral é decretada. O caminho indicado na proclamação seguinte começa pela verificação da "Lei de Malthus da sensibilidade", na qual os "estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica, os da sensibilidade apenas em progressão aritmética". Dai "a necessidade de adaptação artificial", "acto de cirurgia social". Com a "abolição do dogma da personalidade" e do "preconceito da individualidade" visa-se a "criação científica dos Super-homens", "não os mais fortes, mas os mais Complexos; não os mais duros, mas os mais Complexos; não os mais livres, mas os mais Harmónicos". A multiplicidade em cada um, a heteronomia do próprio Pessoa, seria o estado ideal da grande Síntese-Soma. O advento duma "Humanidade matemática e perfeita".




Nenhum manifesto reclamou contra essa apreensão, e Almada denunciou apenas na tábua bibliográfica da "Engomadeira", semanas depois. Foi como se a publicação da revista tivesse esgotado a energia do grupo. Nada mais constou a seguir a esta publicação.
Mário de Sá-Carneiro morrera em 1916, Santa-Rita Pintor morre em Maio de 1918 e Amadeu de Sousa Cardoso em Outubro desse ano. Almada Negreiros foi para Paris em 1919. Fernando Pessoa seguiu outro caminho.
No fim de 1918, um jornalista anónimo, falando da "arte bizarra" dos "excêntricos" do "Orpheu", referiu-se ao suicídio do poeta e à morte de Santa Rita. Não fala nem na morte de Amadeu, nem em Pessoa ou Almada. Escreveu "Os outros dispersaram-se não vingando a escola que pretendiam ressuscitar".
O Futurismo Português, se de futurismo como movimento se pode falar, estava comprido. Como disse Guillhermo de Torre: "Um Futurismo sem futuro".

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