quarta-feira, 22 de junho de 2011

Howard Phillips Lovecraft

(Providence, Rhode Island, 20 de Agosto de 1890 – 15 de Março de 1937)

Foi um escritor, autor de novelas e relatos de terror e ficção científica . A sua obra constitui um clássico de terror cósmico-materialista, uma corrente que se afasta da temática tradicional de terror sobrenatural, incorporando elementos de ficção científica. Cultivou também a poesia, o ensaio e a literatura epistolar.

Lovecraft foi um criança precoce: recitava poesia aos 2 anos, lia aos 3 e escrevia aos 7. A primeira obra que o entusiasmou foi "As Mil e Uma Noites", que leu aos 5 anos; foi nesta época na qual adoptou o pseudónimo "Abdul Alhazred", personagem que depois se converteria no autor do mítico "Necronomicon". No ano seguinte, descobriu a mitologia grega. A sua primeira historia "The Noble Eavesdropper" foi em 1896. Aos 8 anos descobre a ciência, primeiro a química, logo la astronomia. Começou a editar jornais de amador. A primeira aparição de Lovecraft impressa foi em 1906.

Grande admirador da literatura "pulp" da época, sentiu-se ofendido pelas insípidas historias de amor escritas por Fred Jackson, e escreveu una carta em verso atacando a Jackson. A carta foi publicada em 1912, e provocou uma tempestade de protestos pela parte dos defensores de Jackson. Envolveu-se então em uma polémica na secção de "cartas ao director" do Argosy, sendo as respostas de Lovecraft case sempre em sonetos. Esta controvérsia não passou desapercebida a Edward F Daas, presidente da United Amateur Press Association. Daas convidou Lovecraft a juntar-se à Associação em 1914. Lovecraft publicou treze números da sua própria revista no Conservative (1915-23), contribuindo também com ensaios e poesia em outras publicações. Lovecraft converteu-se em Presidente e Editor Oficial da UAPA. Foi também presidente da rival NAPA (Nationa Amateur Press Association, Asociación Nacional de Prensa Amateur). Esta experiência salvou Lovecraft de uma existência de reclusão improdutiva, como ele mesmo disse em certa ocasião:
"Em 1914, estava tão próximo como qualquer animal do estado de vegetativo. Com a chegada da United, encontrei uma nova razão para viver; um renovado sentido da minha existência, encontrando uma esfera na qual podia sentir que os meus esforços não eram de todo inúteis. Pela primeira vez, pensei que os meus infantis vasculhamentos no mundo da arte eram algo más que gritos perdidos no surdo vazio"

Lovecraft manteve um fluxo regular de criações de ficção. Até 1922, foram a poesia e o ensaio os seus principais estilos literários. Foi também envolvendo-se em uma sempre crescente rede de correspondência com amigos e colaboradores, convertendo-se eventualmente no escritor de cartas mais prolífico do seu século, chegando, segundo os cálculos, a uma quantidade que oscila entre as 60.000 e as 100.000 cartas.

Em 1921, num congresso de jornalismo amador em Boston, conhece Sonia Haft Greene que seria sua mulher. Lovecraft tinha entreaberto o mundo profissional através da publicação de varias historias em Weird Tales. Sonia era gerente de uma una luxuosa loja de chapéus la Quinta Avenida. Mas os seus negócios entraram em banca rota; mesmo assim rejeitou a oportunidade de ser o editor de uma revista associado a Weird Tales. Tentou conseguir um trabalho, mas ninguém parecia disposto a contrata-lo. Em 1 de Janeiro de 1925, mudou-se para um apartamento próximo de Brooklyn chamado Red Hook. Mesmo tendo amigos em Nova York, começou a sentir-se deprimido pelo seu isolamento. A sua ficção ia do nostálgico "The Sunned House" ao amargado e misantrópico "The Horror at Red Hook" e "He". Finalmente, em 1926, voltou a Providence.

Os últimos 10 anos da sua vida foram o seu florescimento, tanto como escritor como pessoa. Viajou a vários sítios da América em busca de antiguidades. Escreveu a sua melhor ficção: "The Call of Cthulhu" (1926), "The Shadow Out of Time" (1934-35), "At the mountains of madness" (1931) e continuou com a sua prodigiosamente extensa correspondência. Em Nova Inglaterra encontrou o seu lugar como escritor de ficção fantástica e como homem de letras em general. Mas os seus últimos relatos, foram cada vez mais longos e complexos, foram difíceis de vender, e viu-se obrigado a manter-se a traves de "revisões" de obras de outros e a escrever historias de fantasmas, poesia e trabalhos de não-ficção.
Ao ver o fim próximo, Lovecraft temia o esquecimento da sua obra: não tinha publicado ainda nenhum livro (excepto "The shadow over Inssmouth" 1936) e os seus relatos, ensaios e poemas estavam dispersos por uma enorme quantidade de revistas. Conseguiu, com a amizade de August Derleth e Donald Wandrei , que estes fundassem a editora "Arkham House" para publicar toda a sua vasta obra.



Morgan não é um literato; na verdade, ele mal consegue falar inglês com algum grau de coerência. É isso o que me faz estranhar as palavras que ele escreveu, embora outros tenham gargalhado.
Ele estava sozinho na noite em que aconteceu. Subitamente uma vontade incontrolável de escrever lhe assomou, e tomando a pena na mão ele escreveu o seguinte:
Meu nome é Howard Phillips. Vivo na Rua College, 66, em Providence, Rhode Island. A 24 de Novembro de 1927 – pois não sei sequer em que ano estamos agora – adormeci e sonhei, e desde então tem sido incapaz de despertar.
Meu sonho teve início num pântano húmido e atulhado de juncos que jazia sob um céu cinzento de outono, com um desfiladeiro encapelado de rochas cobertas de liquens elevando-se ao norte. Impelido por alguma motivação obscura, ascendi à uma fenda ou fissura nesse gigantesco precipício, notando enquanto o fazia que as bocas negras de muitos buracos terríveis estendendo-se de ambas as partes até as profundezas do platô de pedra.
Em vários pontos a passagem era coberta pelo chocalhar das partes superiores da fissura estreita; esses lugares sendo excessivamente escuros, e proibindo a percepção de tais buracos que possam ter existido ali. Em tal espaço escuro senti consciência de um singular acesso de pânico, como se alguma subtil e incorpórea emanação do abismo estivesse engolindo meu espírito; mas a escuridão era grande demais para que eu pudesse perceber a fonte de meu alarme.
Concluindo, emergi sobre um platô de rocha musgosa e solo pobre, iluminado por um pálido luar que havia substituído o orbe moribundo do dia. Lançando meus olhos ao redor, não vi objecto vivo; mas estava sensível a uma comoção muito peculiar que vinha muito abaixo de mim, entre os sussurrantes vestígios do pântano pestilento que eu havia acabado de abandonar. Depois de caminhar por uma certa distância, encontrei os trilhos enferrujados de uma ferrovia de rua, e as placas comidas ainda seguravam o eléctrico em boas condições. Acompanhando esta linha, logo dei com um carro amarelo com o número 1852 – tipo de dois vagões comum entre 1900 e 1910. Não estava tocando, mas evidentemente preparava-se para partir. Entrei a bordo e olhei em vão pelo interruptor de luz. Então sentei-me num dos bancos cruzados do veículo. Ouvi um farfalhar na relva esparsa à esquerda, e vi as formar escuras de dois homens caminhando ao luar. Tinham as vestes de uma companhia ferroviária, e não pude duvidar de que fossem o condutor e o revisor. Então um deles fungou com presteza singular, e elevou o rosto para uivar para a lua. O outro caiu de quatro para correr na direcção do carro. Levantei-me de um salto e corri como louco para fora daquele carro e atravessei intermináveis léguas de platô até que a exaustão me forçou a parar: fazendo isto não porque o condutor tivesse caído de quatro, mas porque o rosto do revisor era um simples cone branco com um tentáculo vermelho como sangue na ponta…
Eu estava ciente de que apenas sonhava, mas a própria consciência não me foi agradável.
Desde aquela noite pavorosa, tenho rezado apenas para despertar: isso não acontece!
Ao invés disso eu me encontro com um habitante deste terrível mundo dos sonhos! Aquela primeira noite deu lugar à aurora, e caminhei sem rumo pelos pântanos solitários. Quando a noite veio, eu ainda caminhava, esperando acordar. Mas subitamente abri caminho entre os juncos e vi à minha frente o antigo bonde: e, a um lado, uma coisa com rosto em forma de cone levantava sua cabeça e uivava estranhamente para o luar que se derramava!
Tem sido a mesma coisa todo dia. A noite sempre me leva àquele lugar de horror. Tenho tentado não me mover com a chegada da noite, mas devo andar em meu sonambulismo, pois sempre acordo com a coisa de terror uivando à minha frente na pálida luz do luar, e viro-me e fujo como um louco.
Deus! Quando despertarei?
Foi isso o que Morgan escreveu. Eu podia ir à Rua College 66, em Providence, mas tenho medo do que posso encontrar lá.


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