segunda-feira, 20 de junho de 2011

Futurismo em Portugal – 4ª parte

ORPHEU

Revista lançada em 1915, cujos dois únicos números marcaram a história da literatura portuguesa do século XX, sendo considerada o marco inicial do modernismo em Portugal. Os protagonistas da revista ficaram conhecidos como «geração de Orpheu».
O escândalo provocado pela publicação de Orpheu deveu-se, entre outros motivos, à apresentação de práticas de escrita e correntes artísticas vanguardistas.





Em finais de Março de 1915 surgiu o primeiro número da revista Orpheu, tendo como directores Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho, e como editor António Ferro.
Contribuíram para o número 1 de Orpheu: Luiz de Montalvôr "Introdução"; Mário de Sá-Carneiro "Indícios de Oiro" (poemas); Ronald de Carvalho "Poemas"; Fernando Pessoa "O Marinheiro" (drama estático); Alfredo Pedro Guisado "Treze Sonetos"; José de Almada-Negreiros "Frizos" (prosas); Côrtes-Rodrigues "Poemas" e Álvaro de Campos "Opiário" e "Ode Triunfal". José Pacheco, desenhou a capa e foi responsável pela direcção gráfica.

A recepção de Orpheu não foi pacífica, e desencadeou uma controvérsia pública, que se propagou pela imprensa portuguesa da época. As críticas e comentários eram sobretudo jocosos, sendo os escritores ridicularizados e apontados como doidos varridos, sobretudo devido aos poemas "16", de Mário de Sá-Carneiro, e à "Ode Triunfal" de Álvaro de Campos. Aproveitando o escândalo que se gerara com o lançamento da revista, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, acentuaram o seu carácter provocador revelando nomes como Santa-Rita Pintor, artista plástico "futurista" e Ângelo de Lima, poeta marginal internado num manicómio.




O número 2 (Abril–Maio–Junho de 1915), foi dirigido por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
Contribuíram para este número de Orpheu: Ângelo de Lima "Poemas Inéditos"; Mário de Sá-Carneiro "Poemas sem Suporte"; Eduardo Guimarães "Poemas"; Raul Leal "Atelier" (novela Vertígica); Violante de Cisneiros "Poemas"; Álvaro de Campos "Ode Marítima"; Luís de Montalvor "Narciso" (Poema); Fernando Pessoa "Chuva Oblíqua" (poemas interseccionistas). Esta edição contou ainda com a colaboração plástica de Santa-Rita Pintor, do qual foram reproduzidos 4 trabalhos "Quatro Hors de texte duplos".

Em Julho de 1915, Alfredo Guisado e António Ferro anunciaram publicamente o seu afastamento da revista, devido a divergências políticas com Fernando Pessoa. Mário de Sá-Carneiro que partira para Paris informou Fernando Pessoa que o seu pai se recusava continuar o estatuto messenático que entretanto assumira, comprometendo assim o projectado terceiro número de Orpheu.
No ano seguinte ocorreria o trágico suicídio de Mário de Sá-Carneiro e em 1918 morreriam também os pintores Amadeu de Souza-Cardoso, de quem Fernando Pessoa chegou a projectar inserir trabalhos no terceiro número de Orpheu, bem como Santa-Rita Pintor.
O número 2 anunciava: «O 3º numero de Orpheu será publicado em Outubro, com atraso dum mês, portanto , para que a sua acção não seja prejudicada pela época morta.».
Mas este número nunca chegou a ver a luz do dia, e apenas chegaram até nós as provas de página, impressas. Em 1984, Arnaldo Saraiva compilou e publicou este terceiro número.

Apenas doze anos depois, a importância desta publicação começaria a ser reconhecida pela «segunda geração modernista» nas páginas da revista Presença, publicada em Coimbra de 1927 a 1940 e que contou com nomes como: José Régio, Miguel Torga, Vitorino Nemésio, etc.

A revista Orpheu foi considerada por Pessoa como "a soma e a síntese de todos os movimentos literários modernos"

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