sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Friedensreich Hundertwasser



Friedrich Stowasser
(15 de Dezembro de 1928, Viena, Áustria - 19 de Fevereiro de 2000)



Adoptou o prefixo "Sto" (em Checo significa "cem") que é o mesmo em alemão "Hundert", sendo esta a razão pela qual é chamado Hundertwasser ou Stowasser. O nome de Friedensreich tem o significado de "lugar de paz" ou "Reino da paz". Outros nomes que escolheu para si foram "Regentag" e "Dunkelbunt" que se traduz "Dia chuvoso" e "Escuro, multicolor". O nome "Friedensreich Hundertwasser" significa, "Reino da Paz Centenas de Agua". Em algumas pinturas aparece a sua assinatura como "百水" (hyaku-sui), a tradução ao japonês do seu nome.







Personagem pitoresca, situado à margem da maioria dos movimentos artísticos contemporâneos, trabalha principalmente em obras de pequena dimensão, geralmente com aguarela. A sua obra foi comparada algumas vezes com a de Klee e Klimt.
Hundertwasser dedicou-se ao desenho de fachadas, bandeiras, selos postais, decoração de livros e vestidos. A sua obra pictórica caracterizava-se por ter grande quantidade de linhas curvas, espirais, cores brilhantes e formas tiradas da natureza. Odiava as linhas rectas e as réguas para as traçar, chegou a equiparar a recta de "ferramenta do diabo". Chamou à sua teoria de arte "transautomatismo", baseando a sua teoria no Surrealismo automático.
Conhecido pelas suas "performance arte", na qual por exemplo pode-se ver como aparece em público nu promovendo uma toilette mais ecológica e poupadora de água. Em 4 de Julho de 1958 celebrou um controverso manifesto "Verschimmelungs-Manifest", chamado também como "Manifesto Mould" contra o racionalismo na arquitectura. Em 1972 publicou outro manifesto "Your window right — your tree duty", no qual sugeria que plantar árvores em ambientes urbanos devia ser obrigatório.









"As nossas casas estão doentes desde que existem engenheiros urbanos dogmáticos e arquitectos de ideias fixas. Todas estas casas, que temos que suportar aos milhares, são insensíveis, carecem de emoção, são ditatoriais, cruéis, agressivas, lisas, estéreis, austeras, frias e prosaicas, anónimas e vazias até ao aborrecimento"
No seu manifesto de 1979, “A Santa Merda”, Hundertwasser deu o passo definitivo:
A merda converte-se em terra que se coloca sobre o telhado – converte-se em relva, bosque e jardim, a merda converte-se em ouro. O círculo fecha-se e deixa de haver desperdícios”
De esta mesma maneira o entorno mundial tende também a ser a espiral:
A arte é o ponto de partida e a meta a conseguir”.











Hundertwasser e as suas cinco peles:
Em 1953 na casa de um amigo, Hundertwasser pintou a sua primeira espiral. Este símbolo expressa a sua particular visão do mundo e a sua relação com a realidade exterior: “Esta relação desenrola-se por ósmsoses, a partir de níveis de consciência sucessivos e concêntricos relativamente ao Eu interior profundo. O símbolo pictórico ilustra a metáfora biológica”. No fundo de todo encontra-se o ser, a pessoa, os seus desejos e temores; sobre esta, mas sempre girando *a volta dela mesma, vão-se depositando capas de significações que o relacionam com todo o universo. Estas peles, muitas vezes esquecidas, conformam-nos como indivíduos, partes de uma sociedade e membros de um entorno natural. Estas peles, cinco em particular, englobam todo o universo artístico do pintor-arquitecto.

Primeira pele: A epiderme
"A epiderme é a zona membranosa mais próxima ao Eu interior, a que representa a nudez do homem e do pintor”. Os discursos como “Em nu” em 1967, reclamando o direito à “terceira pele”, não só enfrentava a sociedade mas também impunha a tela dos corpos para pintar naquilo que nós somos.
Essa primeira pele não só é a da epiderme mas também a da infância: esse lugar no qual nos conformamos com nós mesmos. Assim chega ao seu principal descobrimento: O caminho á felicidade na beleza, no mundo do orgânico e do elementar.

Segunda pele: A roupa
Hundertwasser fabricava a sua propina roupa. A sua figura desajeitada, com trajes realizados com fragmentos de diferentes tecidos, começa a ser uma figura familiar nas exposições e eventos. A sua roupa denuncia os três males da segunda pele: A uniformidade, a simetria na confecção e a tirania da moda.

Terceira pele: O lugar
Esta é a mais complexa das ideias e à qual dedicou mais tempo ao longo da sua vida.
Ao longo da sua vida Hundertwasser desenhou, construiu e reparou edifícios em diferentes países. Aparentadas com a arquitectura de Gaudí e de outros arquitectos, surgiram casas de apartamentos, museus, igrejas, centrais térmicas, balneários, jardins e restaurantes, seguindo a linha, como aquela primogénica espiral, que rompe a linha recta e lhes da tanto ao individuo e à natureza, um lugar para amar.
Tectos cobertos de vegetação, paredes cheias de cores como um quebra-cabeças, janelas desiguais, assim como campainhas e fechaduras, aproveitando a variedade da fabricação em massa, adaptando-se a paredes e solos irregulares e "árvores inquilinos" vivendo nas varandas, são as características fundamentais do “direito à janela”.

Quarta pele: O entorno social e a identidade
Para Hundertwasser a identidade não estava conformada somente por quem somos mas também de quem nos rodeamos, sendo a família e os amigos o círculo menor ampliando-se até à vizinhança, a região e o país. Era contra a Comunidade Europeia pois despersonalizava os governos e as decisões.
Dedicou-se a trabalhar com elementos de identificação nacional como as bandeiras e matrículas de carros que dentro da normativa respeitassem a origem regional de cada pessoa.

Quinta pele: O entorno mundial, Ecologia e Humanidade
Até ao fim da sua vida, dava duas voltas ao mundo por ano a bordo do seu barco: Regentag (dia de chuva), para manter-se ao ritmo pendular do planeta. As suas campanhas sempre foram em pro da ecologia, contra o racismo e a favor da paz, também nunca se deixou influenciar por partidos políticos o tendências ideológicas.
Desde os anos 80 esteve apoiando constantemente campanhas contra a energia atómica, a favor do uso do transporte público, a plantação de árvores, a salvação da chuva.

...A quinta pele estende-se até ao infinito.








Em 2000 Hundertwasser finalmente pode descansar do seu trabalho titânico. Foi enterrado, seguindo a sua vontade, sem nada que o separa-se da terra. Sobre o solo da sua sepultura, plantou-se uma árvore. Segundo a sua crença, agora vive na árvore que cresce sobre o lugar do seu regresso à "Grande Mãe". Como toda a sua obra, ele também corre em espirais, a sua obra começa na arte e na terra, e finalmente volta a ambos.






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