domingo, 27 de fevereiro de 2011

Poesia (426): "As Palavras no Lagar" - Tabosa da Pena


Alma Diáfana

Vem a hora, e nela tudo se envolve,
Como a minha vida se dissolve,
Fria e pensativa como o inverno.
Estou só, se ao menos estivesse só...

Tenho-me sempre comigo, ausente e solitário,
Como um barco à deriva com um marinheiro morto,
Assim foi a minha existência, algo por achar,
Resta-me escrever à minha alma diáfana...

Um solfejo de harmonia semântica alegra-me
Mas só por breves instantes,
Breves, como a minha vida.



Fiat Lux

A morte, fitou-me,
Levando o mais íntimo segredo,
Querer ter dor para sempre,
Afogar toda a alegria num poço fundo,
Dar azo ao pranto, anunciar como um anjo!
Em silêncio, o luto da minha alma...

Meu Deus! Que bonita é a tristeza,
O sol nos cemitérios, a lua
Ilumina o mar para que este
Possa cantar, acompanhando, a melancolia
Triste sina, o nascer do dia...
Tão distante, o meu pensamento
Do mundo. Ai! Ausência até de mim!

Deus, no trânsito final confessou-me,
Para remissão dos pecados, falou com voz
Rouca: "Padeceste no fado por culpa minha,
Mas a tristeza foi toda tua, para escreveres
As cousas profanas, na pena de
Deus, Dionísio embebedou-te e eu embalei-te..."

Então depois, fechei os olhos, sem antes
Escutar o murmurar do rio e o chilrear
De um passarinho. Vieram então enterrar-me
Eu, quasi novo, reencarnei,
Alegre, meu espírito ia para o céu, pelo Marão!


Diamantes – lazúli, azul-prussiano.
A minha paleta de pensamentos,
Levou-ma o vento, já sem luz,
Quem me acorda, quem me acode!

Como um rio corre da fonte
Por um lugar por achar,
Assim a rota do meu infinito,
Sempre às voltas, em espiral!

Também os poetas sofreram,
Foram incompreendidos,
Não amaram senão a sua obra,
Perderam-se na visão do sonho!

E, agora tudo foi uma grande ilusão,
Estou tão sozinho, como a natureza,
E a minha vida foi passear meu pensamento,
À beira-mar... O poente, e tudo era sonho e religião!

Os santos e os poetas têm essa visão mística
Da vida, e a fé pesa tanto!
Oh! Crepúsculo, lantejoulas na harém da vida porque tudo
É construção, real dentro do real!




















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