segunda-feira, 18 de abril de 2011

Charles Baudelaire



DE PROFUNDIS CLAMAVI


Que te peço?
Tem pena de mim

Do fundo da ravina obscura onde o meu coração caiu
Ouve meu desabafo

Vivo num mundo sem horizonte nem intensidade
Onde de noite proliferam horror e blasfémia
Não há bichos nem rios nem prados nem bosques

Quando a escuridão se afasta um sol sem afago cobre uma terra mais nua que o mais nu dos pólos

Eu sei que não há no universo horror que ultrapasse a violência gratuita e fria deste sol gelado

Nem o caos antiquíssimo é mais desarrumado que esta noite de que te falo

Invejo o quinhão que coube ao mais vil dos animais que se pode esquecer num sono pasmada

tu que és o Exclusivo que eu amo
peço-te

Divide o tempo que me pesa e dói em fios tão finos quanto podes
E fá-lo lentamente
















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