"INDÍCIOS DE OIRO"
Salomé
Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nus,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro! A minha Alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:
Mordoura-se a chorar – há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...
Último Soneto
Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes ― e vieste...
― Se me doí hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste nas tardes que apareceste ―
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço ―
Que seria entro nós um longo abraço
O tédio, que tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
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