Poesia
A Eternidade
Ela foi encontrada! Quem? A eternidade. É o mar misturado Ao sol. Minha alma imortal, Cumpre a tua jura Seja o sol estival Ou a noite pura. Pois tu me liberas Das humanas quimeras, Dos anseios vãos! Tu voas então... — Jamais a esperança. Sem movimento. Ciência e paciência, O suplício é lento. Que venha a manhã, Com brasas de Satã, O dever É vosso ardor. Ela foi encontrada! Quem? A eternidade. É o mar misturado Ao sol.
Vogais
A negro, E branco, I vermelho, U verde, O azul: vogais.
Algum dia direi desses vossos ocultos nascimentos:
A, negro corpete felpudo em que as moscas, aos centos,
Revolteiam por onde cruéis fedores se sentem mais,
Golfos de treva; E, canduras dos vapores e das tendas,
Cumes de altivos glaciares, reis brancos, trémulas sombrinhas;
I, púrpuras, sangue cuspido, as belas bocas escarninhas
Em sua cólera ou, da embriaguez, percorrendo as sendas;
U, ciclos, divino ondular dos mares verdejando sem fugas,
Paz das campinas polvilhadas pelo gado, paz das rugas
Que a alquimia imprime na alta fronte dos estudiosos;
Ò, Supremo Clarim, pleno de raios estridores facundos,
Silêncios atravessados por Anjos e por Mundos:
- Ò, o ómega, a emanação violeta dos Seus Olhos! -
Canção da Torre Mais Alta
Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.
Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.
Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.
Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.
Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora!
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